Desigualdade das minorias etnicas e raciais
A questão da Igualdade e da Diferença.
A complexa questão da igualdade não é uma idéia
facilmente aceitável na cultura humana. Estabelecer diferenças parece ter sido
sempre uma tendência da humanidade para, por meio delas, procurar definir a
essência humana e a razão de sua existência. Foi a partir do Cristianismo que
emergiu na sociedade a noção de igualdade. O princípio de que todos, sem
exceção, somos filhos de Deus era absolutamente novo num mundo que procurava
sempre identificar um único e verdadeiro povo escolhido. Concebida a idéia da
igualdade original, a ela associou-se a idéia de bondade, caridade e vontade
divina. Nos séculos seguintes essa idéia de igualdade entre os seres humanos
foi se desenvolvendo e se firmando. Os filósofos da Ilustração procuravam descobrir novos aspectos dessa igualdade – vontade, liberdade e,
enfim, igualdade jurídica e civil. Sempre mais no discurso que na ação,
reconheceu-se que todas as pessoas têm direito à justiça, ao trabalho, à
liberdade e assim por diante.
O Modo de Produção Capitalista, responsável por
inúmeras novas diferenças entre os seres humanos, desenvolveu, por outro lado,
a indústria de massa, geradora de grande homogeneização no mundo, diluindo
diferenças e padronizando estilos de vida e consumo. Associada ao marketing e aos meios de comunicação, a
globalização, no século XX, é uma tendência.
Porém, na atual sociedade que se massifica, se
padroniza e se assemelha, surgiram grupos que começaram a se distinguir do
conjunto da população. Em primeiro lugar, porque essa sociedade passou a
abrigar em seu interior, em um mesmo espaço geográfico, pessoas provenientes
das mais diferentes culturas, das mais diversas partes do mundo e de condição
social cada vez mais díspar. Todas elas competindo pelo mercado de trabalho e
por bens que nunca parecem aumentar na mesma proporção que o número de
consumidores. Os grupos passaram a concorrer e a desenvolver extrema rivalidade
e a se opor: mulheres e homens, negros e brancos, nativos e estrangeiros, homossexuais
e heterossexuais, orientais e ocidentais etc. Cada um desses setores da
população procurou definir sua própria história, criou suas justificativas e
elaborou formas de organização em um prol de revindicações. Cada um deles, no
esforço de criar e afirmar sua própria identidade, imprimiu diferenças
marcantes na realidade social. Os movimentos étnicos, raciais, sexuais, entre
outros, disfarçando a padronização da sociedade, deram à noção de cidadania um
novo sentido.
Dessa forma podemos perceber que o coletivo encobre as
diferenças e descriminações, passa por cima de perseguições e injustiças, cuja
superação torna necessária uma ação particular, dirigida e organizada. Diante
desses particularismos nenhuma teoria ou projeto político que tentasse representar
toda a sociedade poderia contentar estes grupos que se sentem especialmente
excluídos de certos benefícios sociais. As soluções que se pretendem globais
descontentam esses grupos que buscam formas próprias de pensamento e atuação.
Enfim, saem das sombras as diferença e as particularidades. Membros de uma
mesma categoria unem-se, denunciam, reivindicam, ocupam espaços e acabam,
algumas vezes, por mudar certas formas de comportamento e por denunciar antigos
preconceitos. Diante de sua força estes grupos passam do discurso à ação
política, reafirmando o princípio da diferenciação como base de uma sociedade
que só aparentemente se homogeneíza.
O conceito de Minoria Social
O princípio da maioria como uma força política nasceu
com a democracia grega, na qual os sistemas de votação direta submetiam a
aprovação das leis ao referendo da maioria numérica de cidadãos – gregos,
homens, patrícios, livres. A maioria correspondia a essa superioridade numérica
dentre os cidadãos que legitimava politicamente as decisões da Assembléia.
Expressava a vontade de uma elite e não os anseios majoritários da população
como um todo. Assim, aos poucos, a
“maioria” deixou de representar uma quantidade para expressar um princípio de
força política: é majoritária a decisão que representa a vontade das elites e
dos governos instituídos. Em oposição, minoritárias são as revindicações que
representam justamente os grupos que não estão no poder, não conseguem aprovar
seus projetos e nem transformar em leis seus anseios. Ou seja, estão em posição
de não dominância e são, recorrentemente, vítimas de descriminação. É por isso
que, por exemplo, as questões relacionadas às mulheres são minoritárias, apesar
de as mulheres representarem quantitativamente mais da metade da população do
mundo. Elas são minoritárias diante das forças políticas em ação – têm menos
representatividade nas instituições decisivas de exercício do poder. Esse
princípio, pelo qual a maioria é identificada com as forças políticas
dominantes e a quantidade passa a significar poder, tem contra partida no
desenvolvimento das ciências sociais que, muitas vezes, associam o
comportamento dominante ao princípio de normalidade. Para Durkheim, por
exemplo, o que carateriza o fato social é a sua generalidade, isto é, a
recorrência ou forte incidência de um traço cultural. Assim, por oposição, o
que é raro ou discordante é associado à anormalidade. Atualmente, com a
multiplicidade dos “casos desviantes” e com a complexidade da vida social, fica
cada vez mais difícil estabelecer maiorias reais. Predomina assim o uso
político ou ideológico desse conceito. Hoje já se reconhece que em “casos
desviantes” estão muitas vezes manifestas tendências sociais emergentes.
Representam aspectos importantes da vida social, sintomas de trans formações que
podem ser vislumbrados pelo cientista social.
Desconsideradas pelas teorias, pelos levantamentos
estatísticos, pelos interesses políticos e ideológicos, as minorias hoje saem a
campo. A sociologia, por sua vez, tem se voltado para a estes grupos a fim de
estudá-los e assim multiplicam os trabalhos de pesquisa que têm por objeto os
sujeitos que compõe estas minorias. Desse modo, a postura que vê com
relevância as questões minoritárias tende a perder adeptos. Atualmente,
entende-se por maioria ou minoria a capacidade de certos grupos sociais fazerem
pressão e obterem sucesso em suas revindicações. É a força da ação política
que torna as questões majoritárias ou minoritárias. A formação e a organização
política das minorias foram revertendo esta tendência, assim como foram criando
condições para a emergência de uma nova forma política: a democracia
participativa. Em vez de confiarem na ação dos políticos que os representam, os
cidadãs/ãos partem para a ação concreta, organizando inúmeros movimentos e associações
pelo mundo, que nada têm de minoritários, quer em termos numéricos, quer na sua
capacidade de mobilização política. As minorias se tornam então força política
e também, por conseqüência, objeto das ciências sociais e humanas. Assim,
ocorre hoje em dia o advento de novos modelos explicativos e novas metodologias
de pesquisa, relação diversa com as demais ciências da sociedade e diferentes
objetos para a análise científica.
Preconceito e Discriminação
Preconceitos são crenças a respeito de membros de um
grupo étnico identificados segundo suas qualidades indesejáveis. Pense em
epítetos étnicos, e as conotações que carregam, como claros indicadores de
crenças preconceituosas - "nego", "baiano",
"japa" e assim vai. Crenças preconceituosas são, portanto, uma parte
notável da cultura de todas as sociedades.
A discriminação é o tratamento
diferencial dos outros por causa de sua etnia, e, mais particularmente, é a
negação aos membros de um grupo étnico à igualdade de acesso aos recursos de
valor - habitação, empregos, educação, renda, poder e prestígio. O preconceito
alimenta a discriminação; e atos de discriminação são freqüentemente
justificados por preconceitos. Ainda, a interdependência entre o preconceito e
a discriminação é geralmente difícil de discernir. Por exemplo, em um estudo
clássico durante a ascensão do preconceito contra os asiáticos no período
anterior à Segunda Guerra Mundial (La Piere, 1934), proprietários de hotel
foram questionados se eles alugariam quartos para um "asiático", e
uma alta proporção indicou que eles não alugariam; contudo, quando um casal
asiático era mandado para um hotel, lhes era dado um quarto.
Esse tipo de ruptura entre o preconceito e a
discriminação levou Robert Merton (1949) a distinguir dentre: "sempre liberal", que não é preconceituoso
e não discrimina; "liberal
relutante", que não é preconceituoso, mas em resposta às pressões
sociais discriminará; "tímido intolerante", que é
preconceituoso mas em resposta às pressões sociais não discriminará; e "sempre
intolerante", que é preconceituoso e discrimina.
Você poderia agora se
perguntar: e eu sou qual? A resposta é provavelmente mais complicada do que a
tipologia de Merton. Você pode possuir alguns preconceitos, mas tentar não
discriminar por causa deles. E você pode inadvertidamente discriminar sem
preconceito ou por causa de preconceitos não reconhecidos.
Enquanto o preconceito individual e os atos isolados
de discriminação são interessantes para observar e pensar, especialmente com
respeito aos nossos próprios pensamentos e necessidades, o que é
sociologicamente mais interessante é a discriminação institucionalizada, na
qual há um padrão consistente e penetrante de discriminação legitimado por
crenças culturais ou preconceitos, e construído dentro das estruturas de uma
sociedade.
Às vezes, a discriminação institucionalizada pode ser explícita e óbvia
como tem sido o caso dos negros durante e depois da escravidão, pois aqui há
uma clara negação de acesso à cidadania, como direito a voto, empregos,
educação, saúde e habitação que era legitimado pelas crenças altamente
preconceituosas. Isto é, a discriminação institucionalizada é mais sutil e
complicada. Por exemplo, os negros hoje sofrem nas favelas, que servem como
reduto de crimes e drogas por causa da herança passada de discriminação, mas
eles são acusados por muitos brancos de não querer escapar dessas condições;
além disso, são vistos como pessoas que têm tratamento preferencial para
empregos e universidades. O resultado final é que muitos negros permanecem pobres,
sujeitos a preconceitos como "pobre preguiçoso, dependente da previdência
social", que não merece assistência; tais preconceitos são então usados
para legitimar as reduções da assistência pública ao mesmo tempo que encorajam
a discriminação da sociedade. Você pode possuir esses preconceitos mais sutis e
complicados, mas deveria reconhecê-los na sociedade.
Desigualdades: Classe, Etnia e Gênero
(Jonathan H. Turner)
Algumas pessoas conseguem mais do que outras nas
sociedades - mais dinheiro, mais prestígio, mais poder, mais vida, e mais de
tudo aquilo que os homens valorizam. Tais desigualdades criam divisões na
sociedade - divisões com respeito à idade, sexo, riqueza, poder e outros
recursos. Aqueles no topo nessas divisões querem manter sua vantagem e
privilégio; aqueles no nível inferior querem mais e devem viver em um estado
constante de raiva e frustração. Isso é verdade, pois imagine o que uma pessoa pobre
deve estar pensando; ela está sonhando com o que poderia ou ela está com raiva
de não poder ter. Assim, a desigualdade é uma máquina que produz tensão nas
sociedades humanas. É a fonte de energia por trás dos movimentos sociais,
protestos, tumultos e revoluções. As sociedades podem, por um período de tempo,
abafar essas forças separatistas, mas, se as severas desigualdades persistem, a
tensão e o conflito pontuarão e, às vezes, dominarão a vida social.
Você é bastante consciente dessas divisões em uma
sociedade, é claro. Compreende a frustração e a raiva daqueles grupos étnicos
que não têm muito, e, se você é parte de um grupo diferente, evita lugares onde
será diferenciado. Se é uma mulher, você sente uma raiva interior diante das
vantagens que os homens têm no mercado de trabalho e nas áreas de prestígio e
poder; e, se é um homem, você sabe que a mudança na divisão de recursos está
ocorrendo e que você terá que compartilhar empregos, riqueza, prestígio e
autoridade mais eqüitativamente com as mulheres. E, quando você encontra
indivíduos de uma classe social diferente, há uma tensão por trás da jocosidade
que decorre do fato de que um de vocês tem mais do que o outro. Desigualdades,
então, são uma importante dinâmica em qualquer sociedade; portanto, elas são
dignas de um estudo mais detalhado.
Formação de Classes
Quantas classes há na sociedade - isto é, pessoas que
dividem uma dada fatia da torta de dinheiro e prestígio e que, desta forma,
revelam características comuns?
Quão claras são as fronteiras? Quanta mobilidade de
classe para classe ocorre durante uma, ou entre gerações? E quão duradouras são
as classes? Algumas das respostas a essas perguntas são mais fáceis do que
outras. Vamos tomá-las em ordem.
Quantas classes existem? A resposta depende da nossa
sintonia com a realidade. Uma aproximação irregular distinguiria o seguinte: elite
(ricos, poderosos e prestigiosos), muito ricos (riqueza acumulada e prestígio
de profissões de alta renda ou empresas), profissionais executivos de classe
média-alta (profissionais com alto salário ou pessoas de negócios bem sucedidas
que acumularam alguma riqueza), sólida classe média administrativa (renda
respeitável, alguma riqueza em fundo de pensão e participação de lucros da
empresa), classe média mais baixa (renda modesta, poucos bens acumulados,
talvez participação de lucros da empresa), classe trabalhadora alta (renda
respeitável, alguma riqueza em fundos de pensão e participação de lucros da
empresa), operários de classe média (renda modesta, poucos bens acumulados), e
os pobres (renda baixa, desempregados, "desempregáveis" sem qualquer
auxílio). Como importante observação, esta última classe, de pessoas pobres, é
a maior do mundo.
Uma pesquisa divulgada pelo jornal “O Globo”, em 2006,
afirma que a riqueza está fortemente concentrada na América do Norte, na Europa
e nos países de alta renda da Ásia e do Pacífico. Os moradores desses países
detêm juntos quase 90 por cento do total da riqueza do planeta'', disse a
pesquisa.
“Nós calculamos que os 2 por cento
dos adultos mais ricos do mundo possuem mais da metade da riqueza global
enquanto os 50 por cento mais pobres, 1 por cento”, disse Anthony Shorrocks,
diretor do instituto.
As diferenças nessas classes giram em torno de
diversos fatores. Um deles é se o trabalho é manual (operários) ou não manual
(intelectual); esse fator é muito importante, e podemos sempre observar
facilmente as diferenças na conduta, no estilo de vida e em outras
características das pessoas do setor administrativo e da linha de produção.
Outro ponto de corte é o nível de renda
e a capacidade de acumular bens de sua própria renda;
as pessoas que têm bens, agem e pensam diferentemente do que as que não têm. E
quanto menos dinheiro você tem, maior é a diferença entre você e os que têm
alguns bens. Uma última fronteira é quanto poder e prestígio você tem, como
resultado de sua renda ou natureza de seu trabalho. Pessoas com poder e
prestígio agem e pensam diferentemente dos que não têm esses bens.
Essas fronteiras de classe são vagas, indicando que
não há qualquer divisão ou rígida descontinuidade entre elas. Voltando à
questão da mobilidade social, há possibilidades de mobilidade entre essas
classes, mas não há grandes saltos. Estatisticamente, é mais provável que você
mude para a classe mais próxima - ou acima ou abaixo. Se começar pela média
baixa, você pode esperar mudar para a média sólida, ou mudar para um emprego
operário mais alto. Se começar nas classes operárias, você pode mudar com a
aquisição de diplomas para as classes médias. Mas, se a economia está em
recessão e se o governo corta gastos, então é provável que você permaneça onde
começou ou que até mesmo desça a escada da estratificação. A maioria dxs
brasileiros permanece em uma classe social durante toda a sua vida; e, se eles
mudam, não é para muito longe - apesar de muito discurso sobre aqueles que
passaram de muito pobres a ricos.
Estratificação Étnica
Entrelaçada com a estratificação de classe está a
desigualdade étnica. Isto é, algumas pessoas de um grupo étnico particular
podem também ser membros de classes sociais específicas. E, uma vez que muitos
dos grupos étnicos estão entre as classes sociais mais baixas, não é
surpreendente que o conflito de classes possa se tornar sobrecarregado de
antagonismos étnicos entre aqueles que têm e aqueles que querem recursos.
Você pode perceber esse fato todo dia, quando se
encontra e lida com pessoas de diferentes grupos étnicos. Você pode se ver como
uma pessoa tolerante e honesta e, apesar de não poder ajudar, você sente uma
tensão sutil entre você e os membros de outros grupos étnicos. Essa tensão não
é apenas o resultado de diferenças culturais (isto é, línguas e crenças),
variações no comportamento (estilos de discurso, maneiras de conduzir-se) e
diferenças organizacionais (padrões diversos afiliação), é também o resultado
de diferenças no dinheiro, poder e prestígio, que se associam com essas
diferenças culturais, comportamentais e organizacionais. Se você está em baixa
nessas diferenças graças ao passado histórico de seu grupo étnico, você pode
mostrar uma hostilidade sutil e carregar um peso no seu ombro; se estiver em
alta, você percebe essa hostilidade e talvez negue sentir certo receio.
Raça e Etnia
O termo raça é usado para denotar aquilo que
percebemos como diferenças biológicas: cor da pele e características faciais,
por exemplo. Mas queremos dizer mais do que apenas biologia; pois, se não o
fizéssemos, faríamos distinções raciais entre as raças superiores e inferiores,
as raças de olhos azuis e castanhos, e outras diferenças biológicas. De fato,
nunca deveríamos usar o termo "grupo racial", porque não tem base
científica. Onde, por exemplo, é a linha de corte em termos de biologia entre
ser "negro" "branco", "asiático"?
Quando usamos o termo "raça", então
realmente queremos dizer etnia, ou aquelas diferenças comportamentais,
culturais e organizacionais que nos permitem categorizar os membros de uma
população como distinta (Turner e Aguirre, 1994). Ainda, quando as distinções
étnicas são associadas com características biológicas superficiais como cor de
pele ou formato do olho, elas se tornam convenientes "marcas" de
etnia. E geralmente se tornam uma base para preconceito e discriminação
elevados, que, por sua vez, aumentam a estratificação étnica, ou a alocação
desproporcional de variadas populações étnicas em classes sociais específicas.
Dinâmica da Estratificação Étnica
A dinâmica central da estratificação étnica é, portanto, a discriminação por um ou mais grupos étnicos contra grupos étnicos definidos. Mas essa simples observação pede importantes perguntas: como uma população étnica vem a ter poder para discriminar? E por que seus membros querem discriminar? A resposta a essas perguntas nos força a examinar a correlação entre várias causas importantes: 1) os recursos relativos de grupos étnicos; 2) a identificação de grupos étnicos como os alvos de discriminação; 3) o nível e o tipo de discriminação; 4) o grau de ameaça apresentado por um grupo étnico para outro; e 5) a intensidade das crenças preconceituosas. Vamos analisar cada uma dessas causas.
Recursos Relativos
Grupos étnicos possuem diferentes quantidades de
recursos - dinheiro, poder, prestígio, qualificações para trabalhar e diplomas.
Essas diferenças são, é claro, o resultado de discriminação passada, e assim,
uma vez que um grupo está em decadência, é geralmente difícil para seus membros
superar os efeitos da discriminação passada - como é o caso a muitos afro-brasileiros
e índios nos Brasil hoje. Diferenças de posses de recursos devem-se também a
outras causas - por exemplo, a história de uma população étnica em uma outra
sociedade e o perfil demográfico daqueles membros que migram para outra
sociedade.
Em termos gerais, quanto mais recursos um grupo étnico
tem, mais apto ele está para reprimir os efeitos das tentativas
discriminatórias por um grupo dominante. Assim, quando os negros vieram para o
Brasil como escravos, tinham poucos recursos para romper com sua continuada
escravização, ao passo que hoje muitos imigrantes asiáticos e indianos chegam
com dinheiro, qualificações, empresas familiares, associações de crédito entre
companheiros étnicos, e diplomas que são usados para ter acesso aos recursos de
valor, até mesmo diante da discriminação. Ao ser capaz de assegurar o acesso
aos recursos - isto é, empregos profissionais e negócios em família
bem-sucedidos -, eles podem eventualmente vir a adquirir outros recursos, tais
como habitação em bairros de imigrantes e poder político comunitário (Turner e
Bonacich, 1980). Em contraste, aqueles que têm poucos recursos financeiros,
educacionais ou políticos estão menos aptos para começar este processo de
encadeamento de recursos. Muitos afro-brasileiros e índios estão nessa condição
de carência de uma base de recurso inicial com a qual superar a herança da
discriminação passada bem como a persistência da discriminação sutil, informal
do presente.
O Nível e o Tipo de Discriminação
O nível de discriminação tem variado enormemente na
história das sociedades humanas, desde o genocídio, em que grupos étnicos foram
aniquilados, à expulsão e, quando essas formas extremas de discriminação não
são possíveis, através da segregação em uma favela e em um restrito campo de
empregos. As judias/judeus na Alemanha, os índios no continente americano foram
vítimas de genocídios. E, mais recentemente, as políticas de "limpeza
étnica" dos sérvios, na antiga Iugoslávia, são ainda outro exemplo de
genocídio em um território. Mais comum, entretanto, é a discriminação que
envolve a segregação física e o isolamento econômico de um grupo. Isto só é
possível, quando os membros de uma população permanecem "diferentes"
e identificáveis.
Um tipo de minoria étnica é a classe mais baixa. Neste
caso números desproporcionais de uma população estão isolados em favelas e
pressionados nos serviços menos pagos, de tal forma que estão nas classes
pobres de uma sociedade - como se nota na sociedade brasileira. Outro fato da
minoria étnica criado pela discriminação é a minoria intermediaria, em que os
membros são segregados, mas, ao mesmo tempo, possibilitados de ocupar uma
estreita cadeia de posições econômicas empresariais e profissionais que lhes
dão alguma riqueza.
No Brasil, a desigualdade social das
"minorias" étnicas, de gênero e idade não está apenas circunscrita
pelas relações econômicas, mas também pela discriminação que reforça processo
de empobrecimento. Ultimamente, há um movimento gerado nas entranhas da
sociedade para diminuir ou suavizar as relações preconceituosas contra a
mulher, a criança, o idoso e o negro. Suas conquistas estão demarcadas nas
legislações sociais, a partir da Constituição de 1988.
O que determina que tipo de minoria um grupo étnico se
tornará? Uma importante condição são os recursos - dinheiro, tecnologia
empresarial, diplomas - que uma população pode ter. Quando os grupos étnicos
têm alguns recursos, eles podem mais prontamente transformar-se em minorias intermediárias
e desfrutar de um estilo de vida mais classe média. Mas os recursos não são o
único fator; outro é o tamanho absoluto de uma população étnica. Uma minoria
com recursos pode mais facilmente encontrar nichos intermediários do que uma
grande, pela simples razão de que não há posições de pequenos negócios
suficientes para uma população grande. Uma grande população étnica, portanto,
será empurrada para classes mais baixas, especialmente se seus recursos forem
limitados e, como conseqüência, suas possibilidades para repelir a
discriminação forem menores. Os negros têm sofrido esse fato: eles são um grupo
grande demais para ocupar o espaço de uma minoria intermediária, e têm recursos
insuficientes para superar a discriminação (Turner e Bonacich, 1980). Na
realidade, o que freqüentemente acontece é que os membros de uma grande minoria
que pode dispor de recursos, isto é, diplomas, transferem-se para a classe
média, deixando para trás seus companheiros étnicos.
Charges:
"O problema da desigualdade social não é a falta de dinheiro para muitos, e sim o excesso nas mão de poucos."
Charges:
"O problema da desigualdade social não é a falta de dinheiro para muitos, e sim o excesso nas mão de poucos."
Alunos: Carlos Roberto,Jabes Alberto,Julyana Maciel,Valéria Aparecida.
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